A pipa, sob o guarda-sol pousa e, como todos, parece fugir do sol evitando
queimar-se demais.
Eu, Gabriela e as crianças brincamos de tesouro perdido no mar e, entre gritos, mergulhos e goles de água salgada, saio para tomar uma cerveja com a intençao de tirar o sal da boca!!
Saboreio a gelada sob o guarda-sol observando o balanço da pipa provocado por uma rajada de vento.
Ouço o Marcelo do mar chamando-me, mas a insistência do balanço da pipa foi maior.
Levanto e num ato de coragem e desinibição pego a pipa e empino, mantendo-a no ar em contraste com o azul do céu.
Marcelo sai correndo da água, talvez, por sentir ciúmes de seu brinquedo. Eu não lhe dou atenção e só sei que a pipa está no ar, altiva, desbravando o céu como um avião.
A estas alturas estou em êxtase e o Marcelo puxa meu calção. Ele quer brincar comigo ou quer que eu devolva seu binquedo? Ou pior quer deixar que suas lindas folhas de papel de seda queimem na areia? Ou pior ainda ser pisada por algum cão vadio de praia?. Ignoro-o e continuo a empinar a pipa.
Na minha mente imagens de uma infância livre, campinho de futebol, bolinhas de gude, das brigas...Uma vez - Jair - nossa aquele moleque era maloqueiro, até minha mãe concordava - vivia querendo arrumar encrenca com todos. Colocava cerol nas linhas para caçar minhas pipas. Eu já tinha perdido dezenas para ele . Queria um dia vencê-lo, roubar-lhe o título e passar a ser o valentão da rua. Para surpresa de todos e a minha, naquele dia eu fui o herói, venço, depois de quase uma hora de desputa no ar.
Olha lá não é que vem vindo uma pipa em minha direção, quer laçar-me... Não vou deixar tenho que escapar ou melhor tenho que ganhar a pipa desse fedelho. Começa a disputa...
Não sei o que aconteceu, só sei que quando dei por mim Gabriela puxava meu braço, o Marcelo meu calção e um molequinho desconhecido chorava.
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